As lentes da simplicidade.
*artigo originalmente publicado em 7 de outubro de 2011 no jornal ‘Estado de São Paulo’ por conta da morte de Steve Jobs.
Qualquer semelhança no óculos ou no olhar que suas redondas hastes emolduram não é mera coincidência. Comparar a morte de Steve Jobs à morte de John Lennon não é descabido. Comparar a passagem de Jobs por nosso tempo com a de Gandhi poderia ser apenas um delírio, mas ainda assim faz sentido.
Revolução é a palavra que une esses gênios. Cada qual revolucionou o mundo a seu modo. Gandhi nos trouxe uma revolução política, Lennon, uma revolução comportamental, Jobs, uma revolução tecnológica. Gandhi parou uma guerra com flores. Lennon mostrou que o sonho pode ser maior do que a vida. Jobs inundou o mundo com a esperança de uma tecnologia simples e humana. Depois deles, o mundo não pode ser mais o mesmo.
Se os Beatles são maiores do que Jesus, Jobs é maior do que Beatles.
A revolução de Jobs começou com a criação do primeiro computador pessoal e culminou com a concretização do antigo sonho de um livro que tudo sabe. Com o iPad, os tablets estão redesenhando a indústria de dispositivos pessoais e outras indústrias ligadas a conteúdo. Jobs revolucionou muitos mercados: computadores pessoais, cinema, música, celulares, tablets e a publicação digital.
Isso tudo sem mencionar, claro, o produto individual mais bem sucedido de toda a história do capitalismo: o iPhone. Nessa altura, eu já não preciso falar nada para que você entenda o que este produto sozinho criou de mudança na humanidade e na forma como ela vive. Nesse sentido, poderíamos dizer que se os Beatles são maiores do que Jesus (como sugeriu John certa feita), podemos então dizer que Jobs é, definitivamente, maior do que Beatles.
Ele foi um gênio criativo e um maestro da estética. Certa vez alguém perguntou a ele sobre o desenho dos PCs e ele falou: “Eles podem ser até simpáticos por fora, mas você já viu como eles são horríveis por dentro?”. Esse era Jobs, preocupado com o desenho integral do objeto, com a elegância de um produto tanto por fora quanto por dentro. Esse é o segredo da maçã de Steve, a preocupação com o todo e com o detalhe.
Se existe algo que o mundo pode aprender com Jobs, Lennon e Gandhi creio que seja isto: o sonho e a beleza devem estar tanto dentro quanto fora. O que o mundo precisa é de pessoas, marcas, produtos e instituições integrais com uma alma verdadeira por dentro e por fora. Simples, profundos e claros como um prosaico par de lentes redondas.
Post também publicado em medium.com/@joaocavalcanti