Percebam, não falo aqui da esquiva malandramente. Antes pelo contrário, me refiro ao movimento que não apenas cumpre a tarefa determinada, como presenteia o mundo com um estilo. Falo da eficiência com requintes de liberdade! Esta palavra, portanto, deve enaltecer o ato junto com a dança, o agir junto com o dançar. Deve apontar para o movimento ornamental efetivo que realiza o afazer doméstico e a tarefa cotidiana. Sua nova classe de sentido não deve promover a performance. Nunca incentivar a infindável dicotomia entre palco e platéia, entre o artista e o público. Já está mais do que claro que não estamos falando da dança propriamente dita. Estamos falando, meus amigos, de uma fusão entre a dança e a ação, estamos falando de Dansação.
Dansação é Mindfulness, é Bodyfulness, é Heartfulness.
Sim, eis a libertadora palavra! A dança da ação, a ação da dança! Dansação é sobre efetividade. É sobre o corpo inteiro. Me diga uma coisa: você já cortou cutículas de corpo inteiro? Já assinou cheques de corpo inteiro? Ou dirigiu um carro de corpo inteiro? Ou ainda juntou copos plásticos do chão? Ou lavou as mãos? Ou os pés? Tudo isso de corpo inteiro? De corpo e alma? Pois é disso que falo meus amigos. Dansação é Mindfulness, é Bodyfulness, é Heartfulness. Dansação é viver o movimento incorruptível da vida com o corpo inteiro e com a alma dançarina. Dansação é o ato de um observador-vivente da vida dançante de um novo poeta do cotidiano — e, caro leitor, isso não é punheta. Nem tão pouco sexo oral. É sexo com tudo é ‘sexo total’. Com o corpo e de corpo inteiro!
Procurei a dansação entre os rappers, b-boys e breakdancers — esses sujeitos que tão cheios de ginga profetizam uma nova cidade, uma nova possibilidade, uma nova forma de viver, mas que agora passaram a se ancorar em quilates, bundas e carros. Claro que os crioulos autênticos desse dia existem (glória!) mas estou aqui falando de cultura que se embala em massa, meus queridos. Quando generalizamos pelo viés da cultura — daquilo que é dominante — parece que estes sujeitos cheios de movimento, ao mínimo contato com globos oculares ou um com um punhado de views, transformam seu ato em performance. Rodas físicas ou virtuais se montam em torno do breakdancer, que ainda é um performer. Ele aponta para um novo léxico de movimentos do cotidiano, mas sua dança ainda é um show e não um espirro.