O amor não é algo teórico — embora, em minha opinião, precisemos cada vez mais e mais de teorias e conteúdos que falem e expliquem esse sentimento tão pouco compreendido por nós. Principalmente se levarmos em consideração a sua importância em diferentes aspectos de nossas vidas. O amor merece mais estudo, mais discussão e mais ação. De todo modo, o amor realmente não é algo teórico. Ele é algo prático. Vivo e vivido. Na tela, na alma, na pele.
Com a meditação é parecido. Muita teoria e muitas ideias sustentam os seus benefícios. Cada vez mais estudos científicos embasam a sua prática. Mas, como a própria palavra diz, a prática é o que importa. Alguns mestres de tradições meditativas antigas têm um dito que define isso muito bem.
“Um grama de prática equivale a toneladas de teoria. ”
Assim também é no amor. Mas, afinal, o que é o amor? É mistério. Parece sempre que sabemos algo sobre ele, afinal já vivemos algumas coisas nesta vida. Já amamos e fomos amados; alguns de nós, estão amando e estão sendo amados neste exato momento. Mas ainda assim sabemos muito pouco sobre ele. Quase nada. Talvez o mais fácil, por ora, seria tentarmos responder o que ele não é. O que não é o amor? Tentando responder a esta pergunta, traduzo livremente aqui as palavras Krishnamurti, um dos grandes pensadores e espiritualistas da Índia moderna. Livre de tradições, com um pensamento autêntico e uma visão clara sobre assuntos transcendentes, Krishnamurti tem algo relevante para compartilhar conosco acerca do amor, não-amor e meditação:
“No espaço que o pensamento cria ao redor de si mesmo, não existe amor. Este espaço divide o homem de si mesmo e ele se torna toda a batalha da vida, todo o vir-a-ser, toda a agonia e o medo desta vida. A meditação é o fim deste espaço, o fim da ideia de “eu” e “meu”. Sob essa luz, os nossos relacionamentos então tomam um outro sentido pois neste espaço, que não é feito pela mente e pelo pensamento, o outro não existe, o “meu” não existe.
A meditação, portanto, não é a busca por algum tipo de visão sacralizada pela tradição. Ao invés disso, ela é o espaço infinito cujo o qual os pensamentos não conseguem penetrar. Para a gente, o pequeno espaço criado pelos pensamentos ao redor deles mesmos — que é o próprio “eu” e “meu” — é extremamente importante pois é tudo o que a mente se identifica e conhece e o medo de não-ser nasce deste lugar. Mas na meditação, quando isso é compreendido, a mente pode entrar numa dimensão onde a ação é a não-ação. Nós não sabemos, de fato, o que é o amor, pois neste espaço que os pensamentos criam ao redor de si mesmos, o amor é o conflito entre o “eu” e o “não-eu”, entre o “meu” e o “não-meu”. Este conflito, esta tortura, não é o amor.
O pensamento, em si, é a própria negação do amor. O pensamento não pode jamais adentrar um espaço onde o “eu” e o “meu” não existam. Este espaço é a bênção que o homem busca e não consegue encontrar. Ele busca isso dentro dos domínios do pensamento enquanto o próprio pensamento destrói o êxtase desta bênção.
Se você se prepara para meditar, você não estará meditando. Se você se prepara para ser bom, a bondade jamais florescerá. Se você conservar a humildade, ela deixa de existir. A meditação é a brisa que entra quando você deixa a janela aberta; mas se você deixar ela propositalmente aberta e ficar convidando o vento para entrar, ele jamais aparecerá.”
Jiddu Krishnamurti
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