Esta semana uma discussão inusitada tomou as redes sociais. O governo interino que assumiu o comando do país pelos próximos 6 meses lançou sua logo-marca e lá consta um símbolo que fora usado no período inicial da ditadura militar — a bandeira nacional com 22 estrelas. Coincidências à parte, talvez esta sincronicidade esteja a nos mostrar o quanto todo esse incêndio político está nos fazendo olhar para o que já é passado e deixar de fitar o horizonte do futuro.
"Ordem e Progresso" é o lema institucional deste “novo governo”. Achei que o momento seria oportuno para pensarmos naquela parte do lema de nosso país que ficou de fora: o Amor. Por isso, mais uma vez, relembro: “Devolvam o Amor” à bandeira de nosso país e às bandeiras de nossas causas.
Peço aqui desculpas por em momento tão “duro” de nossa história nacional voltar a este assunto tão “soft”. Mas este é o meu papel, trazer um pouco de filosofia prática para alimentar a esperança neste momento turvo. Afinal, sejamos PMDBistas, PSDBistas, PTistas ou antipartidaristas, todos queremos uma certa Ordem em nossas vidas e também algum Progresso, não é mesmo? Mas qual é o nosso princípio? De que ponto partimos? Qual deve ser o primeiro passo de nossa jornada? Quando o princípio está escondido, qualquer barbaridade pode ser justificada — Mentira, Ordem e Progresso? Ódio, Ordem e Progresso? Corrupção, Ordem e Progresso? Ganância, Ordem e Progresso? É difícil qualquer tipo de evolução autêntica e duradoura quando não conhecemos os nossos princípios, quando não sabemos no que acreditar para dar nosso primeiro e decisivo passo em direção aos nossos objetivos. Mais uma vez, no princípio de nossa história nacional Comte, grande pensador que o era — e isso não me define como um positivista, mas apenas como um admirador daqueles que gostam de pensar — nos deixou uma pista:
“O Amor por princípio, a Ordem por base e o Progresso por fim.”
O Sonho Brasileiro
Mesmo com a resposta já ressoando na frase acima, pergunto — o que, de fato, é fundamental para a nossa vida? Ou melhor — o que de fato é fundamental para a vida humana? Muito pensamos sobre isso, cinco anos para sermos mais exato. Começou como uma pergunta, evoluiu para uma pesquisa aberta — O Sonho Brasileiro — e agora se tornou uma resposta clara e simples — jamais simplista.
Video do Projeto da BOX1824 realizado em 2011 “O Sonho Brasileiro” — relembrando um outro momento e um outro Brasil. A geração retratada por este estudo está ainda distante do poder, mas a cada ano, mais próximo de sua potência.
Hoje, como pensador cultural, depois deste e muitos outros estudos tenho claro que a essência do “Sonho Americano” é uma: a Liberdade e a essência do “Sonho Brasileiro” é outra: o Amor. Este, no entanto, é tópico para outro artigo e muitos outros ensaios e teses. Deixo essa defesa para o futuro. Por ora, voltemos ao Amor em si e ao que se propões este ensaio.
Amor. A resposta para nossas buscas parece um clichê, mas estou mais do que satisfeito com seu potencial e, estudando com mais atenção, estou bastante contente com sua importância histórica. O Amor mereceu a atenção de boa parte dos grandes pensadores deste mundo e de grandes artistas e, agora, porque não mereceria a nossa atenção? Platão, Aristóteles, Shakespeare, Nietzsche ou mesmo um carismático agitador que ficou conhecido como Jesus de Nazaré falaram bastante sobre esse clichê e depois disso tudo, para minha surpresa, encontrei o clichê nas origens da bandeira de nosso país. Meu maior desejo hoje como cidadão global e brasileiro é ver a tal resposta estampada no centro do maior símbolo de nossa nação. Esse é o pedido que, como cidadão, faço novamente (e quantas vezes forem necessárias) aos nossos governantes do futuro (não aos do passado) e faço a você, meu co-cidadão: gostaria de ver a palavra Amor estampada na bandeira de nosso país!
Este é um direito nosso e de todas as pessoas que virão depois de nós por estas terras — ver a palavra Amor estampada na bandeira deste país. Pense nas crianças que crescerão olhando e se perguntando de forma simples e espontânea: o que é o Amor? Pense em nossas aulas de civismo e civilidade levantando o tópico do Amor como direito e dever dos cidadãos? Pense em nossas vozes cantando o hino inteiro de nosso país em estádios ao fitar com olhos marejados uma bandeira que estampa a palavra Amor tremulando ao vento. Quais as consequencias disso? Não sei, mas quero provar.
Um país se faz além da política. Um grupo se constrói além de acordos. É preciso de um grande coração meus amigos, é preciso muito Amor para se construir uma Família Positiva de verdade. Mas para que tocar em um sentimento tão antigo e polêmico? Ainda mais em um momento tão conturbado e incerto como o que vivemos? Porque reforçar uma palavra que tanto já foi distorcida? Porque assumir algo tão subjetivo e distante de nossa dura realidade nacional? Porque é justamente nos momentos de crise como essa que precisamos voltar aos valores essenciais da humanidade e entender qual foi a falha nestes valores que nos trouxe para a posição que chegamos até aqui.
Devolvam o Amor
O Amor é a base de tudo que é valioso na vida humana. O Amor é um princípio soberano que precisa ser melhor compreendido afim de ser verdadeiramente vivido. Aprendemos a falar sobre a palavra Amor sem saber nem de perto do que se trata. Aprendemos a lê-la sem ter nem o vislumbre do que significa. Ela se tornou a água inodora e insípida que esquecemos de tomar por não ter a intensidade dos refrigerantes de nossos mercados.
Apesar disso tudo, tenho a convicção de que nasci, assim como muitos de meus contemporâneos e conterrâneos, para resgatar o Amor. Muitos de nós nascemos para que ele tenha o seu espaço em nosso tempo e também mais tempo em nossos espaços. Àqueles que pensam que o Amor é assunto sonhador demais para se tornar pauta, tenho pena de suas ambições áridas e sua falta de vocação ao sonho. Para aqueles que já entendem que o Amor é a leveza e a destreza que dão cor a todos os nossos atos — do mais simples ao mais magnânimo — meu contentamento e alegria! A batalha que temos em nossa frente não é simples e a miga que alimenta o corpo do soldado é Ele, o Amor. Por isso o brado da nossa última e definitiva batalha, dure ela 10 ou 1000 anos, é essa:
Devolvam o Amor!
Este texto foi originalmente publicado no Medium do Autor